A iluminação no corredor era rústica e
precária, no entanto, o que me tomava atenção era a borboleta presa à saída de
ar próxima de onde estava. Suas cores iam do azul turquesa a vermelho-vinho,
nunca tinha visto tamanha beleza. Ela movimentava suas asas com extrema
rapidez, ansiava por uma fuga que parecia não existir, talvez a mesma que eu
buscava. Entretanto, meus olhos não se desprendiam dos seus movimentos, mesmo
repetidos, era a única coisa que merecia um olhar naquele antro.
O som de um grito me desprendeu por
alguns instantes dos meus devaneios. Eram femininos e estavam carregados de
alguma coisa que não conseguia definir, possivelmente espanto ou quem sabe
dor... Não sabia. Depois de alguns minutos eles se dissiparam, ouvi apenas
algumas passadas e o som de rodas de um carrinho passando ao meu lado, dando de
ombros voltei a minha atenção a borboleta, que ainda tentava desprender suas
asinhas da saída de ar.
A persistência era algo claro à
pequena, sinceramente a invejava, queria possuir essa qualidade na minha
personalidade, se possuísse eu poderia estar lá fora –, correndo, indo a festas
ou namorando. Qualquer coisa seria aceitável. Mas eu estava ali, preso a um
corredor, sem forças nem para andar, os gemidos que às vezes soltava vinham de
algum lugar que eu não conseguia definir, mas ninguém se importava.
A maca a qual estava deitado,
próximo à saída de emergência, estava próxima a muitas outras macas. E era
aquela borboleta persistente que me desprendia da loucura que me cercava. Os
gemidos às vezes se uniam num único som que caminhava por todo o corredor.
Alguns homens passavam ao nosso lado, mas não notavam nossa presença e quando
por sorte nos viam trocavam o saco de soro, que já estava vazio por outro, não tinham
tempo para as nossas dores e lamúrias, estavam fazendo o seu trabalho.
Minha respiração estava acelerada e
sentia o suor frio descer em linhas finas pela testa, tentei chamar alguém, mas
claro que fora em vão, eles estavam muito ocupados colocando soros em outras
pessoas. Quando voltei a prestar atenção na borboleta vi que faltava pouco para
ela conseguir fugir. Eu queria tanto ser
ela. O aperto no meu peito retornou, minhas pálpebras tremiam, a última
coisa que eu notei foi à asinha da borboleta se desprendendo da saída de ar,
alçando voo rumo à janela a minha frente.
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