terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A Fuga da Borboleta




                                                       
A iluminação no corredor era rústica e precária, no entanto, o que me tomava atenção era a borboleta presa à saída de ar próxima de onde estava. Suas cores iam do azul turquesa a vermelho-vinho, nunca tinha visto tamanha beleza. Ela movimentava suas asas com extrema rapidez, ansiava por uma fuga que parecia não existir, talvez a mesma que eu buscava. Entretanto, meus olhos não se desprendiam dos seus movimentos, mesmo repetidos, era a única coisa que merecia um olhar naquele antro.
            O som de um grito me desprendeu por alguns instantes dos meus devaneios. Eram femininos e estavam carregados de alguma coisa que não conseguia definir, possivelmente espanto ou quem sabe dor... Não sabia. Depois de alguns minutos eles se dissiparam, ouvi apenas algumas passadas e o som de rodas de um carrinho passando ao meu lado, dando de ombros voltei a minha atenção a borboleta, que ainda tentava desprender suas asinhas da saída de ar.
            A persistência era algo claro à pequena, sinceramente a invejava, queria possuir essa qualidade na minha personalidade, se possuísse eu poderia estar lá fora –, correndo, indo a festas ou namorando. Qualquer coisa seria aceitável. Mas eu estava ali, preso a um corredor, sem forças nem para andar, os gemidos que às vezes soltava vinham de algum lugar que eu não conseguia definir, mas ninguém se importava.
            A maca a qual estava deitado, próximo à saída de emergência, estava próxima a muitas outras macas. E era aquela borboleta persistente que me desprendia da loucura que me cercava. Os gemidos às vezes se uniam num único som que caminhava por todo o corredor. Alguns homens passavam ao nosso lado, mas não notavam nossa presença e quando por sorte nos viam trocavam o saco de soro, que já estava vazio por outro, não tinham tempo para as nossas dores e lamúrias, estavam fazendo o seu trabalho.
            Minha respiração estava acelerada e sentia o suor frio descer em linhas finas pela testa, tentei chamar alguém, mas claro que fora em vão, eles estavam muito ocupados colocando soros em outras pessoas. Quando voltei a prestar atenção na borboleta vi que faltava pouco para ela conseguir fugir. Eu queria tanto ser ela. O aperto no meu peito retornou, minhas pálpebras tremiam, a última coisa que eu notei foi à asinha da borboleta se desprendendo da saída de ar, alçando voo rumo à janela a minha frente.
           




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